Uma reflexão para o domingo de Pentecostes – 19 de maio de 2024

Cinquenta dias após a Páscoa, comemoramos os eventos descritos no segundo capítulo dos Atos dos Apóstolos:

Tendo se completado o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar, quando de repente veio do céu um som semelhante a uma violenta rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. E lhes apareceram umas línguas que pareciam feitas de fogo, as quais se repartiram, e que pousaram sobre cada um deles. Então todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem.”
Atos 2:1-4

 

Essa festa se refere à promessa de Cristo no Evangelho de João:

“Eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito, para que fique convosco para sempre, o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o reconhece. Mas vós o conheceis, porque ele habita convosco, e em vós estará.”
João 14:16-17

 

    • Quem é esse Paráclito, o Consolador, o tão esperado Protetor de quem as Escrituras dizem “quando ele finalmente chegar”, aquele que nos permite falar em outras línguas?
    • Por que ele anuncia sua presença por meio de carismas, dons do espírito?
    • Aqueles que oram ao Pai o recebem?

 

Falar sobre o Espírito Santo nos leva de volta às origens da Igreja, que descobrimos no Evangelho do Espírito, como é chamado o livro de Atos dos Apóstolos. Já reconhecemos a ação do Espírito de Deus nos eventos que os precederam, bem como nas promessas e nos dons relacionados a eles, que são relembrados e tornados presentes entre os judeus todos os anos durante as festas da Páscoa e de Shavuot. Essas duas festas estão profundamente ligadas, mostrando uma conectividade na compreensão de Deus como o Deus libertador, aquele que dá liberdade. Ele tira seu povo da escravidão física do Egito (Páscoa) e, desejando a libertação total para todos, oferece a dádiva da Torá (Shavuot), cujo estudo e prática levam à liberdade espiritual. Durante o festival de Shavuot, a Torá é estudada durante toda a noite em sinagogas decoradas com flores e ramos frescos. O objetivo desse festival é nos lembrar que a aliança entre Deus e Israel é eterna e que a dádiva da Torá, como fonte da Lei, é o caminho para a liberdade que traz paz a toda a humanidade.

No segundo capítulo de Atos dos Apóstolos, lemos que os judeus, homens piedosos de todas as nações debaixo do céu, haviam se reunido em Jerusalém. Eles tinham vindo para a festa de Shavuot. Os discípulos de Jesus também estavam presentes. Mas depois dos recentes acontecimentos de cinquenta dias atrás, eles já sabem que nada mais será como antes. Seus ouvidos ainda estão atentos às palavras ditas por seus dois irmãos no caminho de Emaús: “Esperávamos…” (cf. Lc 24,21). Eles se lembram do medo e da amargura daqueles últimos dias, ligados aos eventos da paixão e morte de Jesus, que eles testemunharam. Eles seguiram caminhos diferentes. Mas hoje há uma força e uma esperança renovadas neles que, após esses encontros surpreendentes com o Senhor ressuscitado, permitirão que eles estejam juntos novamente. Eles retornaram a Jerusalém, onde todos, inclusive as mulheres e Maria, a mãe de Jesus, estão unidos em oração. Eles se encheram de alegria e espanto, pois reconheceram a “passagem” da morte para a vida de seu Mestre e Senhor: “Voltaram para Jerusalém com grande alegria e estavam constantemente no Templo louvando a Deus” (Lc 24,52-53). É com essas palavras que o evangelista Lucas conclui seu Evangelho. Mas, desde as primeiras palavras do Evangelho do Espírito, ele recorda a recomendação de Jesus aos discípulos para que não deixassem Jerusalém, mas esperassem ali a promessa do Pai (cf. Atos 1:4)

Quando o dia de Pentecostes (Shavuot) finalmente chegou (cf. Atos 2,1-3), todos receberam o dom que os “encheu” e “repousou” sobre cada um deles. Imediatamente, eles puderam falar conforme o Espírito os capacitava. De agora em diante, todas as nações debaixo do sol e todas as pessoas podem ouvir as maravilhas de Deus em seu próprio idioma (cf. Atos 2,11).

Esse derramamento do Espírito nos mostra a coragem de estarmos juntos e nos permite estar abertos ao que poderíamos chamar de “línguas estrangeiras. Em cada geração, o Espírito Santo nos ensina a unidade na diversidade. É esse Espírito que é o nosso farol no caminho comum para o conhecimento de Deus. É também o Espírito que nos capacita a descobrir as realidades espirituais, as realidades do próprio Deus.

Hoje, neste dia especial de Pentecostes, quando os cristãos de todo o mundo renovam sua fé, peçamos ao Espírito de Deus que nos enche e repouse sobre nós, para que tenhamos a coragem de proclamar as grandes obras de Deus.

 

Esse antigo hino, destinado à festa de Pentecostes, é geralmente atribuído ao arcebispo de Canterbury Stephen Langton, do século XIII, embora possa ser obra de Notker o Balbulus, um monge beneditino que morreu em 912.

 

Veni, Sancte Spiritus

Vem, Espírito Santo, em nossos corações,
e envia do céu
um raio de tua luz.

Entra em nós, Pai dos pobres,
Vem, doador de dons,
vem, luz de nossos corações.
[…]