por Irmã Therese Fitzgerald
A abordagem que desenvolvo visa trabalhar com pessoas que experimentam uma ampla gama de preocupações, como sofrimento emocional, problemas de saúde, relacionamentos, carreira, espiritualidade, sexualidade e traumas de apego. Alguns clientes chegam a mim através de iniciativas de aconselhamento de curto prazo por meio de programas de assistência ao emprego. Entretanto, outras pessoas chegam ao meu consultório de aconselhamento simplesmente através do boca a boca.
A maioria dos meus clientes são da Irlanda: os outros vêm principalmente de outras partes da Europa, Brasil e Estados Unidos. Adoro trabalhar com essa gama de diversidade cultural!
O desejo de contribuir de alguma forma para “um mundo de justiça, paz e amor”
Pode-se dizer que me envolvi com atividades de aconselhamento por “puro acaso”! Quando comecei o treinamento para trabalhar como conselheira, eu era professora de ensino médio e tinha acabado de concluir um mestrado filosófico sobre Estudos para a Paz. Mas, por algum motivo, “resolvi” que completar o primeiro ano de um curso de aconselhamento poderia me ajudar a “enfrentar minha timidez”, que é como eu me descrevia na época: me considerava uma pessoa tímida. Aliás, hoje em dia, inclusive me pergunto por que decidi que essa era a “solução”! Durante aquele ano, passei a valorizar o processo de aconselhamento e a diferença que ele poderia fazer na vida das pessoas: inclusive na minha. Assim, permaneci e completei os quatro anos de treinamento, e continuo buscando o desenvolvimento profissional nesta área desde então, com crescente entusiasmo.
No cerne do meu ministério de aconselhamento, como irmã de Sion, está o desejo de contribuir de alguma forma para “um mundo de justiça, paz e amor” (Constituição NDS nº 13). Meu ministério é parte de minha resposta ao convite de nosso fundador, Padre Théodore, que nos chamou a “ter um coração tão grande quanto o mundo”. Entendo isso como um convite para crescer continuamente em abertura, respeito e bondade para com o próximo.
Isso fundamenta meu acompanhamento aos clientes: pouco a pouco, eles vão ganhando consciência sobre quais são os aspectos de suas vidas em que podem se sentir mais vulneráveis e frágeis. Aos poucos, eles se conectam consigo e desenvolvem seus próprios recursos de cura — recursos inatos a todo ser humano, e que precisamos resgatar em nós. Por meio desse processo integrativo, as pessoas vão descobrindo seus pontos fortes dentro das aparentes limitações. Assim, crescem em liberdade interior e tornam-se mais livres para escolher. Embora eu não tenha um “objetivo definido” para nenhum cliente, estou ciente de que este processo permite estabelecer um espaço onde os corações podem se tornar mais abertos e mais amorosos consigo mesmos, com os outros, com Deus e com o meio ambiente.
Ampliar o espaço do nosso coração na medida em que contemplamos a riqueza contida na diversidade
Meu ministério de aconselhamento vem enriquecendo minha vida há mais de 20 anos. Ele me ajuda a crescer cada vez mais na minha vocação enquanto irmã de Sion e a me tornar mais sensível no sentido de ouvir os convites e chamados para crescer e me desenvolver. Este ministério sempre me chama a transpor meus próprios preconceitos e limitações. Assim, vou ganhando em conscientização.
Sempre fico impressionada em perceber como o processo de aconselhamento é, em boa medida, favorável e flexível para nutrir nossas diversidades e complexidades enquanto seres humanos. Como o aconselhamento nos facilita uma jornada mais profunda em nossa própria experiência, é um processo que também nos convida a lidar com as diferenças superficiais que podem criar obstáculos na forma como nos relacionamos com os outros. O aconselhamento serve para nos convidar a ampliar o espaço do nosso coração na medida em que contemplamos a riqueza contida na diversidade — quer a encontremos em nossas próprias paisagens interiores ou em nossos relacionamentos com outras pessoas.
É a presença do espírito de Deus que abençoa este trabalho
Como conselheira, ao longo dos anos, aprendi — e cada vez mais aprecio — como nossas próprias feridas internas podem ajudar a nos tornarmos mais capazes de ver e ouvir as outras pessoas. Assim, ganhamos o dom de estabelecer conversações baseadas nos valores e nas qualidades do diálogo, tais como respeito, abertura e escuta. Essas conversas têm o potencial de encontrar o outro justamente na vulnerabilidade e fragilidade que compartilhamos: em nossa humanidade compartilhada.
É minha esperança, meu desejo e minha oração que este ministério contribua de alguma forma para o desejo de Pe. Théodore, a saber: o de que possamos ter “corações tão grandes quanto o mundo”. Em última análise, estou ciente de que é a presença do espírito de Deus que abençoa este trabalho e, assim, fornece a cura que orienta nosso mundo interior em direção à totalidade. Este dom de cura interior torna-se, então, o que podemos oferecer aos outros através da forma como nos relacionamos. “[É] o Espírito que nos impele a acolher cada uma no que ela tem de único, com riquezas e limitações, e nos faz perseverar neste amor que cresce e se aprofunda pelos atos concretos da vida quotidiana” (Constituição NDS nº 47).