Justos entre as nações
“Quem salva uma vida, salva o universo inteiro” O título de Justo entre as Nações foi criado em 1953 pelo Estado de Israel, para honrar a memória de não judeus que ajudaram judeus ameaçados durante a segunda guerra mundial. Para receber este título, o salvador não podia ter exigido nenhuma recompensa em troca da ajuda oferecida. Também, é preciso que a ajuda possa ser atestada por testemunhos de pessoas salvas, ou por documentos de arquivos As pessoas reconhecidas como tal recebem da parte de Yad Vashem uma medalha e um certificado de honra e seus nomes são inscritos no muro de honra do jardim dos justos de Yad Vashem ( Jerusalém), Em 2005, mais de 21 000 pessoas tinham recebido esta distinção.
A primeira religiosa de Sion a receber o título em 1989 foi Denise Paulin Aguadich (Ir. Josefine), que, na época da guerra, era “Ancelle”. Depois, outras 6 irmãs da Congregação, assim como um religioso de Nossa Senhora de Sion, receberam a mesma manifestação de reconhecimento com título póstumo. Atuaram em Grenoble, Paris, Anvers, Roma. A ação destas religiosas e destes religiosos que salvaram judeus durante a segunda guerra mundial merece ser lembrada E há outros que, embora não tendo (ainda?) recebido reconhecimento oficial, agiram no mesmo sentido, cada um em seu lugar.
Nascida no dia 24 de setembro de 1879 em Soignes (Hanaut, na Bélgica), Marthe Zech veio de uma família de oito filhos. Tem uma irmã gêmea, Madeleine, que também entrou na congregação com o nome de M.M. Guillaume (1).
Mère Marie Magda pronunciou seus primeiros votos em 1908, quatro anos depois de sua irmã. Foi chamada a viajar muito: Praga, Istambul, Marselha, Tunis... Em 1936-1938, estava em Oradea Mare (hoje na Romênia) e em 1938-1940 em Estrasburgo, como primeira assistente. Por ocasião da evacuação da cidade no começo da guerra, a comunidade de Estrasburgo teve que se dispersar: um grupo se refugiou em Gerardmer, ali perto; outro, conduzido por M.M. Odile, foi para Grandbourg; e um último grupo, conduzido por M. Magda, partiu para Grenoble, para fundar uma nova casa; chegaram lá em setembro de 1940. Ali, as condições de vida da nova comunidade não são nada fáceis: as irmãs vivem num hotel particular, a vila Touchetet que as irmãs conseguiram e arrumaram graças aos pais de uma das religiosas. Elas decidem abrir um internato desde a entrada d 1940. Mas, rapidamente, a vila se torna pequena de mais: havia umas sessenta inscrições a partir do primeiro ano, entre elas alsacianas que tinham acompanhado as irmãs desde Estrasburgo. A comunidade então teve de alugar em acréscimo muitos apartamentos suplementares. Isto acarretou idas e vindas, mas teve a vantagem de facilitar as operações de salvamento. Durante um mês as irmãs viveram em condições precárias, dormindo em esteiras, algumas na capela, outras nas salas de aula. Cada peça tinha vários usos sucessivos: por exemplo, a sacristia se transformava em sala de refeições 3 vezes por dia e, nos intervalos, sala de recepção para a diretora ou sala para as aulas particulares. De noite, era o quarto de uma irmã. Os professores leigos tinham seu refeitório e sua sala num pequena construção que tinha sido uma coelheira e alguns cursos foram dados numa sala de banho que tinha uma velha banheira 1900 de quatro pés (3)! Mère Magda como superiora, Soeur Josephine como assistente social e enfermeira do internato, mas outras também, como Mère Théodore ou Soeur Ignace (Anne Marie van Hissenhover, outra “Ancelle”, originária de Anvers na Bélgica), cada uma fez o que podia para ajudar os judeus.. Grenoble era no momento uma zona livre e sua região se tornou então uma espécie de refúgio para pessoas em perigo nas zonas ocupadas, principalmente porque, desde 1943, o prefeito de Isère cumpria as ordens “sem muita convicção”, o que lhe valeu ser destituído e depois deportado (4). Apesar disto, foi submetida a um ataque muito violento em agosto de 1942, que S. Josephine detalha no seu diário, antes de parar de escrever, ninguém sabe por quê. É preciso observar enfim que depois de novembro de 1942, a zona esteve sob ocupação italiana, o que terá sua importância, porque o exército italiano, no seu conjunto, tinha sido pouco favorável às perseguições antissemitas. Assim, Jacqueline Mizné, aluna do internato, foi salva graças a Mère Magda, a S. Josephine e ao capitão responsável pelo setor. Este último chegou até a fazer libertar a menina que estava inscrita na casa onde seus pais tinham sido presos. Este capitão conhecia Sion através de sua irmã ex- aluna no intrernato de Roma de onde guardava boas lembranças. Portanto ele foi influenciado favoravelmente ao reconhecer o hábito de M. Magda. Além disto, parecia que a gestapo prendera os Mizné sem avisar a polícia italiana, o que deixou este capitão aborrecido e o impulsionou a libertar a menina e a dar ordens para que se fizesse o mesmo com sua mãe (a família Mizné pode se reunir na Liberação). A ação dos libertadores consistia em fornecer falsos documentos de identidade e de alimentação, em esconder as meninas entre as alunas do internato, em contribuir para encontrar lugar nas fazendas das redondezas para crianças que duas assistentes sociais judias, Ethel e Colette iam buscar em Paris, ou em ajudar pessoas a passar para a Suissa. Ethel e Collette vasculhavam o interior para achar famílias para acolher ou esconder as crianças. As irmãs trabalharam também com Germaine Ribière (5), assim como com organizações tais que OSE (6) ou um resquício clandestino dos Eclaireurs Israelitas da França. Sr. Josephine tinha muitos conhecidos e sabia perfeitamente utilizar esta rede. Podia ser uma vizinha, Isaure Luzet (7), farmacêutica, conhecida como “o Dragão”, ou seus próprios pais, Sr. e Sra Paulin, em Chapaeillan, sem esquecer os amigos que tinha em Notre Dame de l’Osier, comuna perto de Grenoble, onde puderam refugiar-se numerosos judeus ou resistentes. Sr. Josephine também fazia parte da rede de resistência Combat. São numerosos os testemunhos de tudo o que se fez. Citemos, no entanto, os nomes de Jackeline Bizné, Hélène Kalmus, Rita Verba (oculta sob o nome de Marghérite Stum), Suzanne Erbsman... Rachel Levy, uma meninazinha escondida no internato, disfarçada atrás das costas de Mère Théodore, que ao mesmo tempo afirmava que a menina não estava na casa.Quando os alemães vinham fazer buscas, Mère Magda, que dominava perfeitamente a língua deles, era encarregada de atrasar ao máximo os soldados, enquanto as meninas passavam para a casa das vizinhas redentoristinas. Uma vez uma deles foi abrigada na enfermaria “tendo contraído uma doença muito contagiosa” Tudo o que se fazia permanecia secreto. Às vezes passavam crianças judias em trânsito entre os protestantes, o que explicava por que não iam à capela. Poucas pessoas eram informadas o que explica porque alguém se espantasse que estas crianças não soubessem o Pai Nosso....Havia também certamente, o problema da estrela amarela. Sr. Joséphine se lembra de que uma das crianças tinha conservado a estrela. Ela a descosturou. mas a marca se via sempre na roupa e a criança tinha que vestir o pulôver do avesso para disfarçar.... Ela termina assim esta lembrança: ” Esta marca era o símbolo inesquecível do sofrimento e do medo que permaneceu incrustado para sempre na alma de cada um”. Uma religiosa de Grenoble, Sr. Eliezer, era de origem polonesa judaica. Uma manhã, depois de uma noite de ataques, homens vestidos em civil vieram buscá-la sob seu nome civil. Segundo o testemunho de várias irmãs, foram chamar Mère Magda e ela respondeu que não conhecia ninguém com este nome. Os visitantes disseram que voltariam depois de se certificar. Depois disto, Sr. Eliezer ficou escondida na casa das redentoristinas que tinham uma casa em frente a Sion, e assim foi salva. Os pesquisadores nunca voltaram. Assim, o que acontecera com a Irmã Gila, apanhada em Issy lês Moulineaux e deportada, pode ser evitado em Grenoble.
O vigário da paróquia vizinha era o Padre Jaquet. Ele adaptou um celeiro onde pode abrigar algumas pessoas em perigo ou à espera de papéis, mas somente por alguns dias. As “Ancelles” lhes levavam alimentos discretamente, quando iam à igreja. A partir de setembro de 1943 e da capitulação da Itália, a zona foi ocupada pelos alemães e o último ano antes da libertação foi especialmente duro. Nesta época, as irmãs de Grenoble decidiram pedir asilo aos padres OMI ( Oblatos de Maria Imaculada ), a Notre Dame d’Osier para transferirem uma parte do internato porque a cidade se tornara muito perigosa depois da explosão de uma reserva de pólvora em uma caserna da cidade. Sr. Jeanne Simone ( Lugand) substituiu Sr. Joséphine. A dificuldade de fazer alguma coisa ainda se acentuou mais porque ela não era “Ancelle”e não tinha, portanto, a mesma liberdade de movimentação que sua co-irmã, acrecentando também o fato de que ela usava o hábito de religiosa. Ela pronunciou seus votos perpétuos no dia 8 de setembro de 1943, exatamente no momento da ocupação da região pelos alemães. Ela não pode fazer o retiro de costume, antes destes votos, porque as pessoas precisavam dela, o que era questão de vida ou morte. Sr. Jeanne Simone escreve, no testemunho que envia a Ana Maria. ” Relendo o que acabo de escrever, não encontro a atmosfera de medo e de trabalho intenso que realmente existia. Não sei como pude evoluir no meio de tantas preocupações e tantos problemas, da ameaça constante da gestapo. Com efeito, estávamos sem ligação telefônica e com um indivíduo vigiando no fim do caminho particular que vinha até nós. Nós tínhamos parentes na resistência e tínhamos pais de alunas favoráveis aos ocupantes....”
Sr. Jeanne Simone faleceu em Saint Gratien, no dia 4 de agosto de 2005. A Congregação das “Ancillae” (servas) de Nossa Senhora, Rainha da Palestina, nasceu em 1924 do encontro de algumas moças animadas de grande atrativo pela vida missionária, e de Dom Pirro Scavizzi, diretor espiritual de uma delas. Apoiadas pelo Patriarca de Jerusalém, partiram para a Terra Santa e fundaram esta Congregação dando lhe o nome do santuário perto do qual puderam estabelecer-se, entre Jerusalém e Tel Aviv. Tinham por vocação o apostolado direto junto aos muçulmanos e judeus, na Terra Santa. A nova congregação se estruturou pouco a pouco e se implantou em Rafat, Jerusalém e Pávia, onde abriu seu noviciado. Um elo foi então tecido entre a congregação das “Ancelles” e Nossa Senhora de Sion, cuja superiora geral era então Mère Marie Amédée. Em 1936 tomou-se a decisão de integrar as “Ancillae”à Congregação, sob o nome de “Ancelles de Notre Dame de Sion. As “Ancillae” puderam escolher entrar ou não na Congregação Notre Dame de Sion, o que a maioria delas fez. Uma delas, em vez de entrar como “Ancelle”, se fez contemplativa em Sion. Algumas outras entraram em outras congregações. Este novo ramo, mesmo fazendo parte da congregação, levava uma vida diferente das outras religiosas de vida apostólica. Por exemplo, as “Ancelles” se vestiam em civil quando estavam fora dos muros do convento e se faziam chamar “Senhorita” pelos leigos que encontravam, porque sua condição de religiosas não devia ser conhecida no exterior. Na Congregação eram chamadas irmãs e não madres (soeur e não mère) (É preciso lembrar que as irmãs conversas também eram chamadas soeur. Assim, se num texto se lê “Sr Marie X” pode ser referência tanto a uma “Ancelle” – de coro ou conversa - quanto a uma irmã conversa , ou a uma noviça ou irmã de votos temporários. Se aparece “Mère Marie X” trata-se sempre de uma irmã professa, de coro, não “Ancelle”; Em 1964, o capítulo geral da congregação assinou a separação jurídica entre as “Ancelles”e Notre Dame de Sion. As”Ancelles formaram então uma associação a que deram o nome de “Pax Nostra. As antigas “Ancelles”puderam escolher entre permanecer na Congregação ou entrar na “Pax Nostra”
Gabrielle Gonzalès de Linarès nasceu em 1898 em uma família numerosa, à qual sempre foi muito apegada. Pronunciou seus primeiros votos em 1928 e suas primeiras obediências a levaram para Estrasburgo, Bucarest e Le Mans. Em 1934 foi enviada a Paris como diretora do pensionato e, a partir de 1941, primeira assistente. Na Missa de seu enterro, uma irmã disse sobre ela: “ de abordagem austera, quando não era ainda bem conhecida, ao se aproximar dela se descobria uma mulher de grande bondade, atenta ao que se lhe dizia, escutando com o coração...Foi também uma ajuda preciosa para as famílias das alunas, procurando compreendê-las, ajudá-las e até mesmo modificá-las, se fosse preciso.” O convento de Paris era, na época uma casa enorme: cerca de 126 religiosas, sem contar o Conselho Geral. O pensionato contava 400 alunas. Sr. Agnese (Emma Navarro) é uma italiana mais ou menos da mesma idade: nascida em 1900, ela fez parte, desde 1930, das primeiras “Ancelles”, vivendo, portanto, na Terra Santa de 1931 a 1934, depois de 1936 a 1937, ano em que pronunciou seus votos em Nossa Senhora de Sion. Em 1938 foi chamada a Paris. Aí, com outra “Ancelle”, Sr Gabriela Londei (enviada depois a Marselha), ela funda o que chamou “Centro Du Marais”,o Marais sendo o quarteirão judeu de Paris. Tratava-se de uma permanência, onde as crianças vinham estudar ou fazer suas lições, receber alguns cursos como cursos de economia doméstica, consultar livros da biblioteca, etc.. Cada verão, colônias de férias eram organizadas em Grandbourg. Muito rapidamente o boca a boca fez sua tarefa e as crianças vinham numerosas. Quando a guerra estourou, Mère Francia com Sr. Agnese perceberam logo o perigo que os judeus corriam, porque eram numerosos, tanto no pensionato como no Marais. A ação destas religiosas foi muito parecida com a das irmãs de Grenoble: ali também se tratava de esconder as crianças, de lhes dar documentos falsos e, eventualmente, deixá-las fugir de Paris. Como em Grenoble, era impossível agir sozinhas e elas tiveram a ajuda da parte de assistentes sociais ( Senhorita Hue, por exemplo, que conseguia para elas papéis falsos e procurava alojamento para as crianças), padres ( o padre Devaux, padre de Nossa Senhora de Sion, que também recebeu a medalha dos Justos em 1996), a prima de Mère Francia, a porteira da prima, o médico da prima (que conseguia os certificados necessários para transferir as crianças para lugares seguros “para casas de saúde”, certificados que o médico da comunidade se recusava a dar) e muitos outros como, aqui também, Germaine Ribière e o Padre Chaillet (9) Esta equipe de pessoas, prontas para ajudar até o fim, não foi exatamente em Sion que Mère Francia encontrou. Ela conta que,na verdade, estava segura apenas de quatro irmãs (10), mas mantinha as outras mais afastadas porque estavam muito ocupadas e, sobretudo, com medo de tagarelices de irmãs inconscientes do perigo. Aqui, como em Grenoble, alguns quiproquos permitiram salvar irmãs. Mère Francia contou a Sr. Ana Maria que um dia policiais vieram com uma lista que começava por “Mère Adra”. Muito acertadamente, ela pode dizer que não conhecia ninguém com este nome. Só muito mais tarde ela percebeu que se tratava de Sr. Andrea Maria, uma “Ancelle” que trabalhava com Sr. Agnesa no Centro do Marais. Mas a continuação da lista trazia nomes de alunas que estavam escondidas no pensionato. Mère Francia conta que respondeu com toda segurança: é verdade, elas estão aqui, mas não há nada a fazer, eu não as entregarei. Levem-me, se quiserem, mas as crianças, nunca.” O policial acabou saindo,e parece que não voltou.. Mesmo assim, Mère Francia tomou medidas para mandar as crianças esconderem-se na casa de várias pessoas, entre as quais as Dominicanas de Moutligeon. Entre as crianças desta lista estava Janine e Paulette Bitcccchatch (alunas do pensionato desde antes da guerra) e Geneviève Lang. Elas foram salvas. Geneviève foi enviada a uma família parisiense , sua conhecida, que pensava tratar-se de uma parenta da Província. Em março de 1943, Geneviève voltou para Sion e ficou aí até o fim da guerra.Ela reencontrará sua mãe e sua irmã ( que tinha sido escondida em Nossa Senhora de Sion de Lion). Seu pai nunca voltou da deportação. Em seu testemunho, Geneviève insiste sobre o fato de que ela nunca sofreu a menor pressão para ser batizada e que nunca sofreu em Sion observações ofensivas ( ela trazia a estrela amarela) diferentemente de cursos particulares que tinha freqüentado antes. Mère Francia acha que houve gente que a ajudou na polícia, mesmo que ela nunca tenha sabido quem. No Centro Du Marais, vinham pedir conselho e confiar o que tinham de mais precioso, inclusive, as filhas. Mademoiselle Hue, assistente social que, como vimos, trabalhava também com Mère Francia e o Padre Devaux, providenciava documentos falsos para as famílias das crianças. Eis um trecho do que S. Agnesa conta a S. Ana Maria: “O pai da Aninha nos tinha dito: ”eu lhes confio minha filha”. Ele tinha perdido a mulher e eu creio que um de seus filhos tinha sido preso (...) Nós tínhamos feito documentos falsos (...) Um dia, crianças foram até nós e disseram: ”Senhorita, eles pegaram o pai de Ana” Eu fiquei transtornada porque depois disto a porteira veio com um pedaço de papel sobre o qual estava escrito: “Senhorita, Ana só tem a senhora no mundo. De agora em diante, a senhora é seu pai, sua mãe”. Quando o pai foi preso, ele pediu para ir buscar alguns objetos e neste momento escreveu estas palavras. Desde então, eu escondi a menina com as irmãs do Bom Socorro. Um dia, ela respondeu ao telefone da gestapo que a ameaçava: ”Se eu acolhi a menina foi para salvá-la e não para entregá-la”. Mas nem tudo era triste. Por exemplo, Sr. Agnesa conta também: ”Fizemos festas magníficas. (...) Representamos a história de Ester. Tínhamos roupas que Mère Amédée nos emprestava”.Todos os verões, ela continuava a nos trazer as alunas que estavam em colônia de férias em Grandbourg. O diário da casa de Evry conta que as crianças iam brincar na piscina que havia aí. (11) Depois de setembro de 1943, Sr. Josephine foi chamada a Paris onde ajuda e depois substitui Sr. Agnese como diretora, porque era preciso uma assistente social francesa para que o centro pudesse ser reconhecido como”Centro Social” Acabada a guerra, Sr. Agnese ainda ficou algum tempo em Paris antes de ser enviada a Roma, onde continuou a obra começada na França, abrindo uma “dopo scuola ( depois da escola) próximo do ghetto de Roma. Permaneceu aí até sua morte em 1998. A medalha dos Justos lhe foi atribuída em 2010. Sr. Josephine ficou em Paris até 1953, depois deixou a Congregação e se casou. Morreu em 2010. Foi a primeira das religiosas de Sion a receber o título de Justo entre as Nações (em 1989). A atenção de Yad Vashem a focalizou por intermédio da senhora Isaure Luzet, que, durante a cerimônia de entrega de sua própria medalha, afirmou que não teria podido fazer nada sem ela.
Mère Francia , enfim, ficou alguns anos em Paris, depois em Saint Omer, antes de ser nomeada superiora das “Ancelles” (1951-1959) , depois enviada à Espanha para fundar uma nova inserção sionense. Voltando à França em 1964, ficou em Paris até 1980, depois enviada a Issy- les-Moulineaux onde faleceu em 1992. A medalha e o diploma de Justo entre as Nações, que lhe foram atribuídos a título póstumo em 2006, estão expostos no hall do estabelecimento que ela dirigiu por tanto tempo e onde salvou crianças, na Rua Notre Dame des Champs em Paris.
Anna Otto, Anna Otto, a futura Mère M. Dora nasceu no dia 29 de março de 1874 em Bruxelas. Como Mère Magda, tinha oito irmãs e irmãos dos quais muitos se fizerem padres ou religiosas. Uma de suas irmãs fez profissão em Nossa Senhora de Sion com o nome de Mère Marie Stéphane. Tendo entrado no noviciado em 1898,( pronunciou seus primeiros votos no dia 4 de fevereiro de 1900). Foi muitas vezes chamada a ser superiora de alguma casa: em Roustchuk na Bulgária durante seis anos, depois quatro em Galatz, antes de ser nomeada superiora em Saint-Omer em agosto de 1938. Pode-se ler em seu menológio (12) que “o que mais chamava a atenção na sua fisionomia era sua bondade; seu coração se compadecia de todo sofrimento e sabia ser maternal para cada uma; mas era firme em manter a regra e o espírito religioso” Sua bondade, é também a lembrança que conservam dela as ex-alunas de Saint-Omer e de Anvers. No ano seguinte, em fevereiro de 1942, recebeu uma obediência para assumir a direção da casa de Anvers. M.Marie Guillaume, a irmã gêmea de Mère Magda Zech, irá encontrá-la aí no mês de agosto, deixando Evry, onde tinha vivido durante onze anos. No verão, durante as grandes buscas, Mère Dora escondeu crianças no pensionato com nomes falsos. Foi o caso especial de Lydia Werkendam que tinha então sete anos. Ela conta que, um dia, durante um bombardeio, todo o convento tinha ido se refugiar em um abrigo. Uma das irmãs, percebendo a falta de Lydia, se precipitou no andar de cima para acordá-la e levá-la para o abrigo. Lydia acrescenta que sua mãe esteve em contato estreito com o convento, durante toda a duração da guerra e que “as irmãs faziam o impossível para tranqüilizar mamãe”. Mère Guillaume recolheu no convento aviadores aliados caídos no território ocupado pelos alemães. Organizou uma trilha de fuga para estes aviadores, mas também para resistentes e judeus, que passavam para a França. (Grenoble onde sua irmã gêmea dirigia o estabelecimento de Sion), depois para a Suíça ou Espanha e Portugal. É provável que Mère Dora e Mère Guillaume tenham sido ajudadas pelo Padre Demann, padre de Sion que se encontrava em Louvain nesta ocasião. A saúde de Mère Dora era frágil e ela não sobreviveu a uma operação cirúrgica feita no dia 7 de julho de 1944. Faleceu no dia 23 de setembro de 1044, alguns dias depois da liberação de Anvers que aconteceu no princípio do mês. Recebeu a medalha dos Justos em 1998. Mère Marie Guillaume faleceu no dia 27 de novembro de 1965, em Paris.
Roma (Italia): Madre Marie Augustine (Virginie Badetti) y Madre Marie Agnesa (Emilie Benedetti)
Mere Marie Augustine (Virginie Badetti) nasceu no dia 29 de maio de 1981 em Estambul. Depois de ter pronunciado seus primeiros votos em 1926, viveu a maior parte do tempo na atual província do Mediterraneo: Turquia, Egito, Tunísia... Em 1942 foi enviada a Roma para ser superiora da casa.Substitui Mère Mariella, chamada a Saint-Omer para bubstituir Mère Dora partindo para Anvers. Mère Marie Agnesa nasceu em Roma em 1902 Aí, foi aluna do pensionato Nossa Senhora de Sion, depois seguiu cursos de enfermagem e teologia. Como as primeiras “Ancelles, foi acompanhada espiritualmente por Dom Pirro Scavizzi. Depois de pronunciar seus primeiros votos em Paris no dia 20 de janeiro de 1928 e uma passagem rápida por Trento, viveu o resto de sua vida em Roma. Na época, a Congregação dirigia em Roma um grande pensionato sobre o Gianículo que fechou as portas na véspera da guerra.Em seu lugar abriu-se um orfanato de que S. Agnesa foi a primeira diretora. A guerra entre a Alemanha e a Itália foi declarada em 20 de junho de 1943, Roma foi bombardeada no mesmo dia pela primeira vez. Como a casa das irmãs estava situada no alto da colina do Gianículo , elas puderam observar o “espetáculo desolador... das chamas que subiam ameaçadoras para o céu”.
É a partir de 8 setembro de 1943 e da capitulação da Itália que se situam os acontecimentos de que vamos falar.Roma foi então ocupada pelos alemães depois de uma batalha que se desenrolou em parte no quarteirão onde se encontra a casa: um projétil de canhão caiu na galeria, quebrando um vidro.As primeiras investidas se deram a partir de 15 de outubro. A narração sobre a casa de Roma neste período que foi redigida no fim da guerra conta: “No dia 16 de outubro, de manhã (...) chovia, grupos compactos de mulheres israelitas acompanhadas de seus filhos atravessaram a cancela da rua Garibaldi”. Mère Augustine aceitou acolhê-la no convento.Era preciso arrumar espaço para acolher tanta gente, e tiveram de afastar os móveis que ocupavam espaço. Felizmente, para o primeiro dia, as pessoas tinham levado alimentos. Diante da boa acolhida que lhes foi feita, as mulheres pediram a Mère Augustine licença para chamar os maridos. Aceito o pedido, , não sem antes pedir autorização ao vicariado. o refeitório foi transformado em sala de dormir e era muitas vezes preciso pular as camas improvisadas. Cada lugar, por pequeno que fosse, estava ocupado: o espaço debaixo da escada abrigou uma família de sete pessoas. Mas famílias inteiras foram assim acolhidas, o que lhes evitou a separação. A estufa abrigou os que chegaram por último. Um sino foi instalado na casa do porteiro para servir de sinal de alarme: quando tocava três vezes, todos deviam correr e se esconder. Havia, por exemplo, um porão de carvão que podia conter umas cinquenta pessoas, mas só tinha uma abertura fechada por um pesado armário de carvalho, nenhuma janela, nenhuma porta.Esconder-se ali era arriscar a ser enterrado vivo. Assim os refugiados preferiam se esconder na casa de vizinhos no caso de alarme porque neste abrigo se sufocava literalmente. Se, durante uma das buscas na casa, os alemães percebiam camas de ocasião, explicava-se que se tratava de colchões de evacuados, o que era possível porque eles eram numerosos em Omã. Uma vez, uma mulher não conseguiu chegar a tempo no abrigo. Então uma irmã tirou seu véu e a touca e colocou na cabeça dela, entregando-lhe ao mesmo tempo uma panela cheia para mexer. As pessoas que estavam escondidas procuravam se tornar úteis às irmãs, por todos os meios, levando as bandejas aos doentes, carregando baldes, etc. Aos sábados alguns se reuniam para rezar e ler os salmos. Sr. Dora (Rutar) se lembra de que, por ocasião de sua profissão, em dezembro de 1943, os hóspedes judeus da comunidade participaram da celebração. Sr. Luisa (Girelli) acrescenta: “ era emocionante, porque, apesar do perigo, os judeus participaram conosco de uma festa que não era deles. E o fizeram para nos manifestar sua gratidão. “ O padre Marie Benoit, capuchinho que também recebeu a Medalha dos Justos, veio muitas vezes visitar as irmãs. O problema do abastecimento evidentemente foi difícil de resolver. Uma irmã era encarregada de ir ao mercado negro, e algumas das senhoras escondidas às vezes vinham ajudá-la. É provável também que os homens que eram remunerados davam ao menos parte de seu dinheiro para pagar sua alimentação, ou iam eles mesmos comprá-la. As irmãs pediram, e receberam, a ajuda do Vaticano para o abastecimento, pelo menos de modo pontual. Esta situação durou dez meses. Felizmente, Mère Augustine acabou conseguindo um documento atestando que a propriedade estava sob a proteção do Vaticano e assim as buscas eram proibidas. Um dia os alemães tentaram assim mesmo entrar na casa. Alguns judeus escondidos ficaram com medo e ameaçaram fugir. Foram presos e um deles torturado. Isto aconteceu alguns dias antes da liberação de Roma que aconteceu no dia 4 de junho de 1944; assim eles ficaram livres de ser enviados aos campos. No final, todos os judeus escondidos em Sion foram salvos. Havia advogados, comerciantes... alguns tinham levado consigo tesouros, jóias, ouro. Tudo tinha sido guardado em segurança e pode lhes ser restituído integralmente. As irmãs que se engajaram em favor dos judeus na hora das perseguições agiram individualmente. Mas cada uma sabia com quem podia contar, na Congregação, na família, entre os que estavam a sua volta. Se forem interrogadas sobre as razões que as levaram a fazer como fizeram, todas responderâo que fizeram apenas o seu dever e que, aliás, nem sempre tinham consciência de que estavam sendo heróicas. Para concluir podemos citar, com Denise Paulin- Aguadish, o padre Bromberger: Durante a resistência, a coragem consistiu em permanecer neste estado de sonhar acordado o que nos permitia, não apenas fazer coisas perigosas, mas também não saber muito bem o que estávamos fazendo”.
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