Uma linguagem para as agitações do meu coração

Pergunte a qualquer irmã de Sion três lugares em que se deve olhar para encontrar alimento e orientação para a vida: sem hesitar, ela dirá as Escrituras, a natureza e o coração humano.

Estudar as Escrituras me ajudou a juntar as peças do quebra-cabeça da minha espiritualidade

Foi instintivo para mim recorrer à natureza e ao meu próprio coração em busca de respostas. Mas me deparei com deficiências no meu conhecimento e compreensão das Escrituras. Antes de embarcar no estudo formal das Escrituras como irmã de Sion, me envolvi com a Palavra de Deus principalmente por meio da Lectio Divina, uma forma de leitura reflexiva da Bíblia. Na melhor das hipóteses, certas palavras ou frases bíblicas despertaram algo dentro de mim que me levou a um insight. Em tempos menos inspirados, as Escrituras funcionavam como uma tentativa de adivinhação ou um “biscoito da sorte” consultado durante um dilema da vida. Os elementos da minha espiritualidade estavam fragmentados, e eu não tinha certeza de onde as Escrituras se encaixavam.

E foi assim que estudar as Escrituras me ajudou a juntar as peças do quebra-cabeça de minha espiritualidade. Por exemplo, uma análise aprofundada da narrativa da Criação em Gênesis me revelou que Deus não é uma entidade externa que apenas se regozija em seu poder, flutuando em uma terra distante e desconhecida. Deus está em nós. Mas, visto que somos seres humanos, pode ser difícil compreender a essência de Deus no nosso interior. Assim, quando experimentamos o incrível, como a beleza da natureza, ou, por outro lado, o terrível — a guerra e toda a gama de coisas incompreensíveis que a antecedem —, podemos reagir exteriorizando tudo isso, ou seja: projetando tudo isso em Deus, em uma figura fora de nós mesmos. À distância, podemos admirar, culpar, desmontar, analisar e nos relacionar com essa figura. No entanto, quando fazemos isso, podemos, com o tempo, esquecer nossa verdadeira natureza; podemos esquecer que Deus está dentro de nós. É aqui que descobri que as Escrituras se encaixam.

As Escrituras me trouxeram vida nova

Meu encontro regular com a Palavra me alimenta espiritualmente porque suprime a distância que às vezes coloco entre mim e Deus. Isso me ajuda a me ver como realmente sou. E, se tiver sorte, muito raramente, sou presenteada com momentos de ansiedade, anseio ou êxtase e saio dessa experiência sabendo o que significa ver Deus face a face e viver para contar ao mundo sobre isso.

Uma amiga com quem posso brincar, sonhar acordada, rir e chorar

Não estou dizendo que todos os pedaços fragmentados da minha espiritualidade se juntaram de repente através do meu estudo da Torá, dos Profetas e dos Salmos. O que estou dizendo é que estudar as Escrituras me trouxe vida nova. Tudo isso me presenteou com uma linguagem: toda uma literatura com a qual posso articular conceitos, emoções, questões e as emoções do meu coração. As Escrituras se tornaram, para mim, uma amiga com quem posso brincar, sonhar acordada, rir e chorar. Este processo me reintroduziu na minha fé, de uma forma bastante tangível e de uma maneira mais interessante. É uma proposta que me dá forças para lutar, e que é capaz de me tirar o fôlego. Minha fé ganhou vida mais do que nunca!